7.03.2003

2

— Meu, vô fica muito loca hoje!!!! — a Tânia solta a frase típica de toda a balada.
— Ok, garota, só não vou precisar carregar, né?
— Que isso, você sabe que eu me viro!
Claro que sei, três caronas pra tomar insulina em dois anos, mais algumas chuveradas geladas na casa do Marquinhos, e uma entrega delivery na casa dos avós dela me fizeram aprender muito sobre a Taninha. Ficar sempre longe dela na hora de ir embora!
— Acho que um flashizinho com wiskinho ta na boa pra já começar a caça, não?
— Se você ta dizendo eu acredito, né?
A Tânia tem a mania de perseguir o cara mais estranho da balada. Ela escolhe o mais bizarro e fica xavecando o cara até conseguir no mínimo irritá-lo.
Ela se dirige pra pista cambaleando, algumas meninas numa rodinha de lado riem, mas ela já passou do ponto aonde pode perceber esse tipo de atitude.
Para ao lado de um mulato enorme de rastafari e óculos escuros. Olha ele de cima a baixo, passando pelo coturno preto, calça de couro pegada e colete cinza riscado. Ela sorri, olha pra mim e da uma piscadinha. “Vai fundo , Taninha!”
Ela levanta o braço direito bem erguido e começa a sacudir o resto do corpo furiosamente, os cabelos vão de um lado para o outro. O cara ao lado nem percebe que ela esta lá. Ela começa a dançar rebolando, subindo e descendo até o chão.
Um menino de camisa e gel no cabelo se aproxima dela e começa a dançar atrás dela, tentando encostar no seu traseiro. Ela ri, depois se irrita e o empurra longe.
O mulato continua dançando discretamente ao lado dela, sem dar muita atenção ao tumulto. Ela se livra do cara do gel no cabelo e volta a dançar pertinho dele. Levanta os braços e começa a balançar os cabelos em cima dele, toda sorridente.
O cara se move e encosta nela, ela o olha ansiosa. “Da, licença?” Ele passa por entre ela sem olhar nos olhos dela e continua se movendo no meio das pessoas até chegar na frente da pista de dança.
Ela fica estática olhando ele dançar lá na frente. Com raiva ela volta ao bar.
— Que saco! Ele nem se ligou que eu tava lá! Vou beber mais uma e volto lá! Desse cara eu não desisto!
— Vai fundo, Taninha! — to vendo que alguém vai ter trabalho hoje.
Ela pede ao garçon mais uma caipirinha. Enquanto ele entorna a vodka, ela se debruça sobre o bar e pede sorridente que ele aumente a dose, dando uma piscadinha.
— Oh, Tânia. Vem aqui — eu puxo ela pelo braço.
— Ai, que é? Perai...
— Olha isso daqui um pouquinho — viro-a para a pista e aponto para um casal.
— Nossa! O meu cara! Ta beijando! Um cara! Blargh! Não acredito! Não acredito!
— Bebe, bebe sua caipirinha que logo passa.

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