8.10.2003

8

João tenta cumprimentar Tati, que passa por ele furiosa. Mais uma vez sem ser notado. Tudo bem, ele está acostumado. Faz horas que ele esta ali, de pé, parado, num canto da danceteria e ninguém o olhou ainda. Nenhuma menina se virou para vê-lo, nenhum sorriso ou mesmo um esbarrão com direito a desculpas.
Mas ele não está chateado, se ficasse aborrecido com esse tipo de situação teria muita dor de cabeça pra curar. Ele está conformado, já assumiu para si mesmo que não nasceu pra essa vida de paquera. Se um dia for namorar será por puro acaso, sorte ou internet. Sua sina é a timidez!
Todo seu conformismo começou quando aos 12 anos, ele conheceu uma menina, amiga de sua irmã, que lhe deixou completamente tonto. Ele conta para todo mundo que assim que conheceu a Bruninha ficou apaixonado. Sempre quis dar flores pra ela, mas na hora H nunca conseguia falar “Pra você”. A coisa foi crescendo de tal forma que aos quinze anos o João ainda não tinha conseguido falar nada pra ela. Um dia, irritada com a falta de atitude dele, sua irmã o entregou: “Bruna, você não se ligou, mas meu irmão ta afim de você!” O João ficou tão envergonhado que não saiu do quarto por três dias. Depois disso, nunca mais conseguiu xavecar outra menina.
— E ai, João? Belezura? Que ta fazendo na balada? — Alberto puxa conversa com ele.
— Oi, Beto. Não to fazendo nada não. Só observando — ele responde meio sem jeito.
— Pó, mas desse jeito você não arranja nada!
— Ah, mas eu já to acostumado, sou muito na minha.
— Você não pode ser tão tímido, tem que ir mais a luta! Vai dizer que não tem nenhuma gatinha que te interesse!
— Claro que tem, ta cheio, aliás. Mas eu sei que nem tenho chance...
— Que isso, você tem que arriscar de vez em quando. Depois de vários “não”s, uma hora rola um sim.
— Ah não sei...
— Pó, João, você não sabe o que ta perdendo...Você viu a Tati por ai?
— Saiu naquela direção...Mas você...
Beto sai e deixa João falando sozinho, encostado na parede. Na sua frente uma morena de olhos verdes conversa animada com mais duas amigas. “Eu podia chegar nela, por que não?”. Ele se inclina para frente, mas se detém de novo.”Ela ia me achar um panaca.” Ele tenta tomar coragem, fecha os olhos, tenta juntar forças, mas suas pernas não se movem. “Ela não ia me dar bola mesmo”, “Eu não ia conseguir falar nada mesmo”.
A menina percebe o olhar dele e sorri discretamente olhando-o. Ele se anima, mas ainda não consegue se mover. “Ai, e se ela tiver sorrindo pra outra pessoa?”.
Ela passa a olhar o tempo todo pra ver se ele a esta olhando. E ele sem jeito não sabe o que faz.”E se eu não conseguir falar nada? ”Será que eu vou lá falar com ela?”.
Ela troca de lugar com a amiga e fica de frente pra ele. Ele se assusta, a mão começa a suar e ele não sabe mais o que fazer, as pernas começam a tremer. “Ai, será que colo?” “O que eu faço?!” “Ai, seu idiota, olha lá, a mina ta de dando bola!”.
Um menino se aproxima da roda de amigas. Ele olha para a menina e começa a puxar assunto com ela. Ela ainda olha para João, sorri para ele, enquanto conversa com o outro.
João continua sem saber o que fazer e impotente abaixa a cabeça e se encosta de novo na parede. Ela olha para ele uma última vez e sai andando com o garoto.




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