1.06.2004

24

Mari esperou que o sinal soasse e correu para a saída da faculdade, tentando não encontrar ninguém no caminho. Não sabia o que era mais constrangedor, se sentir observada, responder as minhas perguntas indiscretas ou a vergonha de encontrar Rafael no caminho.
Mal sentia o chão que pisava, mal via por onde passava, só precisava sair daquele lugar, ficar longe dali o mais rápido possível. Esbarrando em uns, desviando de outros e sempre com um único objetivo, a porta de saída.
Ufa, ei-la! Ela anda mais meio quarteirão e respira tranqüila, pode sentir um pouco de liberdade, sem cobranças. Um minuto podendo ser a Mariana de sempre.
— Mari! — ela olha abismada para Rafael segurando em seu braço — Nossa, a gente nem conseguiu conversar direito hoje.
— Rafa...oi...é que...— ela sente vontade de chorar — hoje eu estou um pouco apressada, é isso! — ela sorri sem vontade.
— Deixa eu te levar em casa então, to de carro — ele aponta o automóvel para ela.
— É...— ela não sabe o que fazer ou dizer. Esta cansada e desapontada pelo esforço da fuga inútil. Ela se cala e segue em direção ao carro sem muita vontade.
Ele abre a porta pra ela, tem um ar alegre. Ela se sente constragida. Ele liga o rádio, batidas fortes, um cantor se esgoela em notas desafinadas, enquanto os dois se mantém em silêncio, silêncio desconfortável.
— E ai? Conseguiu chegar a tempo na aula hoje — Rafael olha pra ela e dirige ao mesmo tempo.
— Na verdade não, cheguei na terceira aula — ela responde baixo, suas bochechas estão levemente vermelhas — Minha casa é virando a direita.
— Nessa rua? — ele aponta o braço sobre ela.
— É — responde sem jeito, desviando atrapalhadamente.
— Obrigada pela carona — ela da um beijo rápido no rosto dele e sai do carro. Rafael parece decepcionado.
Ele observa Mari entrando no prédio. “Acho que ela não quer mais nada”. Não consegue entender as atitudes dela, porque agir daquela maneira? Será que não foi bom pra ela?
Ele fecha os olhos, respira fundo e lembra da noite passada, um sorriso no rosto...o celular toca.
— Alo...
— Rafa! Oi, gatinho!!!! Lembra de mim?! — uma voz feminina animada.
— Aaaa...— ele se esforça para lembrar.
— Mas que memória curta, heim??? De ontem!— a garota da risada.
— Oi, tudo bom?! — ele sorri — Dormiu bem? Hehehe — ele relaxa no assento do carro.
— Pensei em você, vai sair hoje?
— Provável, hoje é sexta feira, né? Fazer o que...
— Eu to pensando em ir de novo naquele lugar de ontem, você bem que podia aparecer por lá, né?
— É, podia sim — ele da risada — Gosto dos freqüentadores, hehehe.
Mari sai do prédio e percebe que o carro de Rafael continua parado ali, ele não a vê. Ela observa ele entretido no telefone, dando risada, animado. Mari sente um ódio subindo pela garganta. Sai andando furiosa pela calçada.

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?