1.12.2004

27

João fica namorando o quarto da irmã por mais de meia hora. Entre o vão da porta ele olha os pés dela se mexendo sobre a cama. A voz não para nunca, o falar no telefone incansável, ao mesmo tempo as teclas do computador...blá blá blá, plic plic plic, blá blá blá, plic plic plic.
Ele espera o momento certo para perguntar sobre a Bruninha, ela deve saber algo. “Será que ela esta longe?” Ele não se agüenta de curiosidade, mas esta amedrontado, precisa interromper a irmã, de perguntar sobre a amiga, e se ela não gostar.
Ele olha a TV ligada, e o quarto da irmã, pensa em deixar mais um pouco de lado, mas pensa ao mesmo tempo no destino, ele pode pregar peças, é preciso coragem.
Ele escuta o telefone batendo no gancho. Se prepara, atento, ainda no sofá, o momento de atacar. Ouve passos no quarto, a porta se abre, ela sai direto para a cozinha e ele não fala nada, apenas acompanha-a com os olhos.
Ela abre a geladeira e enfia a cabeça dentro. Procura algo na mesma posição por uns cinco minutos e ele não se move, apenas observa.
Ela segura um pote de sorvete e entra para dentro da cozinha, João não consegue mais vê-la. Ela volta trazendo um potinho com sorvete e segura na boca uma colher, ao mesmo tempo em que guarda o pote de volta na geladeira.
Ela vai andando de volta para o quarto e João continua estático com os olhos arregalados para ela. Ela nem se da conta e fecha a porta atrás de si.
João assusta-se com a porta que bate e levanta num pulo. “Coragem, rapaz!” Ele vai andando até o quarto da irmã, abre a porta e fica ali, parado, olhando-a teclar as letras no computador.
Após cinco minutos, ela já um pouco impaciente olha para João mal humorada.
— Jão! Que diabos você ta querendo????! — olha zangada.
— É...nada não...— ele desvia o olhar da irmã.
— Jão, meu, qual é o problema? Vai ficar me olhando com essa cara de cachorro sem dono, pó! — Ela cruza os braços e insiste.
— Eu tava aqui pensando...não sei, talvez você soubesse...
— Jão, meu, fala logo, desembucha! — ela bufa impaciente.
— Eu andei pensando naquela sua amiga lá, a Bruninha, sabe? — ele fala sem graça.
— Bruninha, mas quem diabos é ...ahhh ta! Aquela lá, hahahahahah, que é que tem? — ela olha com um ar de comédia pra ele.
— Você ainda fala com ela? — ele pergunta sério.
— Não, não falo muito — a irmã fica séria também.
— Ela se mudou pra fora? — ele se entusiasma.
— A Bruninha, hahahaha, imagine! Ela continua estudando na minha sala, Jão, a gente só que não se fala muito, por que?
— Pensei que talvez, você tivesse o telefone dela ai com você, podia ser que...
— Não to acreditando!!! Você ta querendo sair coma Bruninha?!?!?! Hahahahahah Fala sério, Jão!!! — ela cai na risada — Bom, tem gosto para tudo, né? Não aconselho, mais...
— Então você tem ou não?! — ele pergunta irritado.
— Tenho, esta ali naquela minha agenda velha, no B, pode pegar...e boa sorte, hahahahahah — ela vira de costas pra ele e continua a escrever no computador.
Ele pega a agenda, procura a letra B ansioso, amassa uma página, olha pra ver se a irmã ouviu, ela continua distraída com o computador. Ele acha, ali esta! “Bruninha” Ele abraça com carinho a agenda, olha pra ver se a irmã viu, ela não percebeu. Ele pega a agenda e sai rápido do quarto.
Ele se senta em frente ao telefone. Medita uns 5 minutos...“Devo?!”. Ele olha para a agenda, olha para o telefone e olha a sua frente, sua imagem refletida no espelho. “Sou um cara até bonitão! Ta mais do que na hora de deixar de ser tão bundão!”.
Ele toma o gancho do telefone nas mãos e disca rapidamente o número que já memorizou na cabeça. O telefone toca, alguém atende, ele responde nervoso e apressado.
— Alô, a Bruna esta? — ele gagueja.
— É ela, quem é? — responde uma voz sonolenta e dura.
— Oi, aqui é o João...
— João? Qual João, conheço uns 20 Joões!
— É eu sou irmão da Juliana, do colégio...
— Putz, também conheço 300 Julianas!!! Do colégio já da metade!!!
— A Juliana Marcones, loira e baixinha.
— Ah ta, me liguei, que é que tem, aconteceu alguma coisa com ela? — ela pergunta desinteressada.
— Na verdade não, eu é que queria falar com você, não sei se você lembra de mim, mas eu me lembro bastante de você...
— Sério?! — ela parece surpresa — Se você diz, eu acredito, né? — ela fica fria de novo.
— A gente podia se encontrar e conversar...
— Você ta me convidando pra sair?!
— É...— ele se apavora — É, por ai...
— Tá bom, não tenho nada a perder mesmo, se você quer... — ela responde sem muita vontade.
— Você já foi numa balada que fica ali na Rua Joaquim...
— Sei qual é, uma com decorações em vermelho? Você vai lá? Ta a gente se encontra lá então...Combinado! — ela desliga o telefone.
João esta imobilizado por tamanha emoção! Olha no relógio, 20 para as 10:00, tem que correr!!!

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