2.02.2004

31

Três carros um pouco desalinhados chegam em frente a boate. Uma garota de salto agulha se assusta e da um saltinho gritando. Alguns rapazes riem, também embriagados.
Saio do carro furiosa, com vontade de atirar no primeiro passante.
— E ai? Vamos pra fila? — fala João desesperado.
— Temos que esperar todo mundo sair do carro — olho para ele sem paciência. Edu para ao meu lado, bufo fula da vida.
Todos os amigos vão se amontoando ao lado da entrada. Sinto alguém me cutucar, olho para trás e Tony me cumprimenta com um beijo melado no rosto. Não sei se sorrio ou se fico brava, a verdade é que gosto. Ele entra dando uma piscadinha pra mim.
— Vamos entrar? — João ainda insiste.
— Calma, João. Já estamos entrando — Beto da um tapinha nas costas dele. João está angustiado.
Esperamos impacientes na fila. Sinto Edu logo atrás de mim e isso me irrita. J, o dj da boate, passa e nos cumprimenta. Ele fala com a mulher que esta guardando a porta, e chama todo mundo pra entrar. A fila, que esta enorme, olha feio. Escutamos alguns resmungos. João parece mais aliviado.
A música esta alta. Encontro alguns conhecidos na entrada e cumprimento. João sai andando.
— Que bom que você veio hoje, vamos ter um gringo convidado pra tocar depois de mim — fala J entusiasmado.
— Verdade? E ele é bom? — pergunto interessada.
— Muito, muito bom, eu vi ele tocando no ano passado e dei a dica pro dono da casa — ele conta orgulhoso.
— Eu confio no seu gosto.
— Você ta sabendo que o Tony andou perguntando de você? — J me olha desconfiado.
— Humm, sei — respondo mal humorada.
— Ah, não faz essa cara não. Sei muito bem o que vocês fazem por ai...— ele ri cúmplice.
— Muito engraçadinho você! Mas dessa vez, não. Acho que o Tony anda muito cotado pra mim — olho com desprezo para o bar.
— Sei não, mas vocês que se entendam, deixa eu ir que ta na hora do meu set — ele se despede. Olho para o bar e Tony esta olhando para mim.
Vou me virar e dou de encontro com Edu, sempre parado do meu lado. Encaro-o com uma careta e saio. Ele me segura pelo braço. Eu o encaro novamente, surpresa e séria ao mesmo tempo. Ele me encara em silêncio, com um sorriso no rosto. Eu tento me desvencilhar, mas ele esta me segurando com força.
— O que você pensa que ta fazendo? — pergunto muito séria.
— Lutando pelo que eu quero — ele olha dentro dos meus olhos.
— Me solta. Eu não gosto que me peguem assim — puxo meu braço com força e ele o solta rindo para mim.
— Você é muito folgado — dou as costas com desprezo.
Enquanto saio de perto dele ele sussurra algo no meu ouvido e roça a boca dele no meu pescoço. Viro furiosa.
— Escuta aqui! — falo de maneira forte, mas não alta — Se você encostar em mim mais uma vez eu juro que te quebro o dedo! — olho firme para ele, que continua a sorrir.
Saio andando séria. Não olho para ver sua reação. Preciso de um drink, vou ter de enfrentar o Tony. É uma questão de manter o bom humor.
Encosto como de costume no bar, de costas para os barmans, respiro fundo, preciso libertar o ódio de dentro de mim. Tony estende sua mão sobre mim, oferecendo-me um copo de caipirinha. Viro a cabeça e sorrio pra ele pegando o copo avermelhado. Ele sorri de volta.
— Você devia esquecer desse garotinho com quem você veio — ele olha para Edu, que me encara.
Sorrio pra ele, sabendo que ele esta com ciúmes de um “ninguém”.
— Obrigada, Tony. Adoro caipirinha de saquê — saio para a pista de dança.

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