2.03.2004

32

João está inquieto. “Aonde esta ela?!” Veio só por isso. Mas como vai saber quem é ela? Será que ela mudou muito? Ahhhh, Bruninha, a mulher dos seus sonhos.
E se ele não reconhecê-la, será que ela vai ficar ofendida? O destino não pode enganá-lo dessa forma. Seria duro demais perdê-la, assim, por tão pouco.
— Ta pensando no que? — Beto da um tapinha na nuca de João — Ta curtindo alguma gatinha?
— Não, que isso...— João fica sem jeito.
— Por que você ta tão ansioso hoje, heim? Ta esperando alguém, por acaso? — ele olha ao redor para verificar o que João tanto olha.
— Não to esperando ninguém, não — ele olha para baixo.
— Está bem, acredito em você então — Beto sai dando risada de João.
João continua estressado, buscando alguma menina que possa se parecer com a lembrança da Bruninha que ele ainda guarda.
Ali tem uma loirinha, estilosa, corpinho legal, seria ela? E aquela morena? Cabelos curtinhos, ele gosta disso. “Acho que não tenho noção de quem seja a Bruninha, o que vou fazer agora?”.
Sente um cutucão nas costas, se vira assustado. Uma garota baixinha, um tanto cheinha, o olha desconfiada. Ele se vira e fica encarando-a, sem entender.
— Então você que é o João? — ela o olha sem muita alegria — Ta com essa cara por que? Não ta lembrando de mim? — ela já fica séria.
— Não, que isso! — ele se assusta, “como ela esta diferente!” — Só estava um pouco distraído.
— Pensei que você fosse me procurar pra gente se encontrar! — ela cruza os braços na frente dele.
— Claro, mas é que me distrai. Me desculpe... — ele tenta manter a calma. “Acho que reconheço esses olhos! Ela esta tão grossa!”.
— E ai? Eu era tudo que você esperava? — ela ri da cara de assustado dele.
— Não...quer dizer, bem...um pouco diferente — ele tenta não ser rude.
— Você não consegue mentir! — ela solta uma risada alta — Mas tudo bem, não to nenhuma beldade mesmo. Engordei um pouco desde a época em que falava com a sua irmã, sabe como é, pílula... — ela olha para o lado um pouco nervosa — Vamos, me pague uma cerveja para se desculpar de sua grosseria!
Ele vai atrás dela em direção ao bar. Ela pede uma cerveja para o barman, pegando a comanda da mão de João e entregando ao rapaz, que anota nela.
Eles ficam em silêncio olhando para a frente, um do lado do outro. Ele a olha de soslaio, esta um tanto decepcionado. Mas o destino estaria errado? Ele poderia passar por cima da beleza física? Do mal humor? Das palavras chulas? Ela não era feia. Podia estar naqueles dias e enfim, não era ele um exemplo de boas maneiras.
Ela o olhou impaciente...“e então?”. Aquele menino magrela e sem a menor graça era a sua possível chance de desencalhar?
Ele, percebendo a sua inquietação não se conteve. Fez o que achava que era certo naquele momento.
— Não importa que você seja diferente, eu sempre vou gostar de você — ele sorriu para ela, como se fosse um nobre bom samaritano.
— Que?! — ela o olhou com desprezo e depois começou a rir alto novamente — Se liga, moleque! Vê se te enxerga! Não sei quem é mais babaca, você ou sua irmã! Fala sério!
Ela sai andando e balançando a cabeça em tom negativo. João não sabe o que dizer, nem o que fazer, fica estático.
Ele olha de longe para a pista de dança. Tânia esta lá, ela dança ao lado de Tonho, Carol e Gabriel, ela esta solta, livre, linda. Ele pensa nas suas palavras na casa de Rafael e se arrepende. Olha para a baixinha, Bruninha, gritando com um menino que tenta puxar assunto com ela. Olha para si mesmo e tem vontade de chorar.
Percebe como tem sido idiota, cego, iludido. Acredita em algo que não existe. Tem conceitos e preconceituosos antiquados, que não cabem a sua realidade. Acredita-se mais importante do que é. Mas a verdade é que não olha para si mesmo.
No meio daquela danceteria, entre tantas pessoas curtindo a noite, conversando, bebendo, ali ele percebe-se como alguém que não é percebido. Sente-se sozinho e deprimido. Com vergonha de si mesmo. E só existe uma única conclusão para tudo aquilo que de repente ele viu passar em sua cara. Um rapaz imaturo que viveu a vida toda o sonho de uma menina do passado que não existia na verdade, a não ser em sua cabeça.
Não há como negar. Ele é um babaca.

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