7.26.2005

43

Acordo com gosto de cabo de guarda chuva na boca. Não sinto vontade de levantar da cama. Penso na madrugada anterior e sinto desgosto. Minha vontade é de dormir e fingir que foi só um pesadelo.
Mas o gosto de álcool, que ainda da sinal de vida na minha saliva, não me deixa esquecer da noite anterior. A culpa me acorda gritando: "você fez besteira, minha amiga!".
Escuto alguém batendo com força na porta. Sou cegada pela claridade de fora, que vem direto nos meus olhos. Meu irmão grita que tem gente me esperando lá embaixo. Pelo visto também o acordaram, ele esta ainda mais mal humorado do que eu.
Não me lembro de ter combinado nada com ninguém. Quem estaria na porta a uma hora dessas?
Levanto meio desajeitada, as coisas ainda rodam um pouco. Coloco a calça jeans que esta jogada sobre a cadeira no quarto. Pego a primeira blusa que esta na gaveta. Saio cambaleando até a porta. Olho pro meu irmão, ele esta rindo de mim. Pergunto:
- Quem ta lá embaixo mesmo?
- Como é que eu vou saber? - meu irmão esta com os olhos fixos no jogo de basquete que passa na TV.
- Obrigada por nada! - saio em direção ao elevador.
Na porta do prédio, João me espera.
- Não lembrava de ter combinado nada com você - encontro ele mal humorada.
- A gente não tinha combinado nada mesmo. Vim te avisar que o Beto esta no hospital.
- O que?! Como assim?!! - pânico.
- Calma, então, to tentando contar - ele se impacienta - Eles sofreram um assalto e o ladrão atirou nele.
- Mas é grave?!?!?!!? - fico besta com a calma do João.
- Sei lá, acho que não.
- Como!!!!???? O que aconteceu?!?!?! Fala menino!!!
- Se você deixar...
Respiro fundo de ódio.
- Ele foi atingido no dedão do pé - João me olha sério e eu olho atônita pra ele.
- HAHAHAHAHAHAHAH - não consigo conter a risada - No pé? Tadinho, hehehehe.
- Vim ver se você quer ir lá, ver como ele esta - ele me olha esperançoso.
- Você não quer ir sozinho, né? - pergunto desconfiada.
- É... - ele abaixa a cabeça.
- Ok, vou pegar minha bolsa lá em cima e a gente pega o carro e vai.

Mari penteia os cabelos molhados se olhando no espelho. Repara nas olheiras, não conseguiu pregar os olhos a noite toda. Ficar pensando em Rafael tinha se mostrado algo nada saudável.
O cheiro de comida da cozinha já se espalhava por toda a casa. Deveriam ser umas 11 horas já. Mas não tinha tido vontade de sair do quarto.
Ouviu passos se aproximando e colocou a blusa correndo. Escutou baterem na porta. Colocou a calça jeans larga e correu para a porta.
- Querida! Você não quer ajudar a sua avó a preparar o caneloni - a avó de Mariana puxou-a pela mão e a levou até a cozinha.
Mari em silêncio corta o tomate, enquanto sua avó a observa, percebendo seu desânimo.
O interfone toca.
- Tem alguém esperando você lá embaixo, minha filha - avisa a avó de Mari.
- Vou descer pra ver quem é... - Mari fica imaginando quem poderia ser àquela hora, pleno sábado.
Ela calça os sapatos e entra no elevador...

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