8.03.2005

47

Eu chego em casa exausta. Entro no quarto, coloco o pijama e volto a dormir.

Tânia esta sentada há meia hora esperando o inicio da reunião. Já tomou 3 cafés, comeu três docinhos e três bolachas de água e sal, sente que vai explodir se comer mais alguma coisa. Ao se lado algumas pessoas conversam, outras lêem sozinhas, enquanto as demais olham para o nada em silêncio.
Uma mulher de seus 40 anos entra no recinto. Ela carrega uma pastinha e um livro nas mãos. Ela se senta na frente e começa a reunião.
Taninha tenta se concentrar, mas esta muito nervosa pra isso. Uma senhora bem gorda senta a seu lado. Ela sorri sem jeito. A senhora segura na mão de Tânia, que se assusta.
- Primeira vez, né? - a senhora sussurra baixinho - Da pra perceber pela sua carinha - ela fala delicadamente dando uma risadinha - Não se preocupe, você não precisa falar nada, a não ser que queira.
Taninha sente-se mais calma e sorri para a senhora.
- Eu venho aqui a mais de dez anos, não se preocupe, não tem nada há temer - ela põe a outra mão sobre as mãos delas e soltando Tânia, se vira para escutar a reunião.
Tânia pela primeira vez escuta realmente o que estão falando.

João esta no quarto aflito. Não sabe se liga para Tânia, ou se pede conselhos para a irmã. O livro cerrado sobre o colo. Ele balança as pernas em desespero, querendo levantar da cama e pegar o telefone.
Mas o que falaria para ela? Eu sou um idiota? Eu fui um insensível? Qual o meu problema? Não, não! Ela iria achá-lo um idiota, o que ele não deixava de ser. Como provar para Tânia que ele podia ser um homem melhor. Um homem, aquilo lhe soava quase como uma piada.
Poderia começar com um... "eu quero você!" Ela provavelmente riria dele. Mas ele tinha que tentar, deveria haver algo que ele pudesse fazer para melhorar sua situação. Como era dolorido ver quem se ama estar com outra pessoa.
Não podia agüentar de tanta ansiedade. Estaria Taninha acordada? Ele precisava falar com ela. Não podia mais esperar.
Pegou a agenda de telefones. Há quanto tempo tinha aquele telefone e nunca tinha-o usado? Porque havia agido daquela forma infantil com ela? O que ele iria falar?
Ah, e se ela o rejeita-se? E se ela falasse que ele era um idiota? Não interessava, ele tinha que lhe falar. Pegou o telefone e discou...

Taninha estava concentrada escutando o depoimento de um senhor. Como as pessoas conseguiam se abrir daquela forma ali. Pessoas tão parecidas com ela, com inseguranças tão semelhantes e ao mesmo tempo em realidades tão diferentes. Ela queria se abrir também.
O senhor terminou de falar, os colegas aplaudiram. A mulher questionou quem seria o próximo e quando Tânia ia levantar a mão seu celular tocou.
Todos olharam feio para Taninha, ela estava tão sem graça que não sabia se atendia ou se pedia desculpas. Sem jeito ela saiu correndo da sala para atender o telefone. Esquecera de desligar com o nervosismo.
- Alo - atendeu rapidamente. Um silêncio e só o barulho de caída a ligação. Ela queria matar quem havia ligado, nunca sentiu tanto ódio. Olhou para ver qual o numero que marcava no celular. Era um número que ela desconhecia.
Furtivamente ela voltou para a sala em silêncio, tomando o cuidado par deixar o telefone desligado.

Quando João escutou a voz de Tania, não teve coragem de falar e desligou. E se ela tivesse como saber o número que havia ligado? Ela provavelmente devia saber. Droga, como ele iria ter coragem de falar com ela? Como iria explicar que havia desligado na cara dela? O melhor era ligar de novo e inventar alguma desculpa. Túnel, mal sinal. Mas aquele era um telefone fixo, o que falaria?
Melhor ligar novamente. Ele discou correndo os números e caiu na caixa postal
Droga. Ela sabia que era ele e não queria falar. Ela tinha desligado o telefone, não queria conversa com ele, o que ele iria fazer?

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