8.10.2005

50

Mauro esta nervoso. Não pregou o olho a noite toda. Alguém vai ter que pagar por isso. Alguém vai ter o troco nesse sábado.
Ele pensa em Rafael, sente o sangue subir pelas veias. Pensa em Tony e no segurança da boate, fecha os olhos e vê socos voando por todos os lados. Quem eles pensam que são, querem fazê-lo de covarde? Eles acham que podem pisar nele?
Mas a vingança é um prato que se come frio, frio como um sorvete. ?Hummm vontade de tomar sorvete?
- Manhê...compra sorvete pra mim? - Mauro grita pela casa.
- Querido, claro, tudo para o meu doentinho - ela acaricia os cabelos dele, pega a bolsa e sai pela porta da frente - Já volto, viu querido?
- Não compra com morango que eu odeio, heim? - ele ainda grita para a mãe de longe.
Senta-se em frente à TV e pensa mais um pouco na noite anterior - Aquela Mari, ela bem que merecia uns belos tabefes também. Dorme com tudo que é cara por ai e depois faz esse escândalo todo por causa de um beijinho?!
E aquele idiota do Rafael, qual o problema dele? Que ele quer provar? Comeu a mina e agora só tem pra ele?!
E aquele Tony...garçonzinho de meia tigela. Devia ir pros diabos, não tem mais copos pra lavar e vem irritar quem não tem nada com isso...Inveja, inveja do meu carro e da minha grana que ele não pode ter, cretino?
- Chegueiiii - a mãe de Mauro coloca o sorvete sobre a mesa.

Beto para o carro na rua, vê Tati chegando rapidamente ao portão do prédio.
- Tati! - ele grita bravo - Perai! - Sai apressado do carro.
- Que você esta fazendo aqui? - ela grita de volta ainda mais brava.
- Eu vim falar com você! Que historia é essa de envolver nossos amigos nas nossas brigas? - ele anda mancando. As pessoas que passam na rua olham os dois curiosos.
- Envolver quem? - pergunta Tati nervosa - Não estou envolvendo ninguém!
- Então por que você veio correndo contar tudo pra nossa amiga? - ele a desafia de frente pra ela.
- Porque eu precisava de uma amiga agora! Posso? - ela vira-se em direção ao portão. Ele a segura, um uivo de dor.
Ele faz careta e ela o acolhe, senta-o no chão e estende a perna dele.
Ele olha para ela cuidando dele, ela o olha nos olhos.
- O que nós estamos fazendo? - ela se senta no chão ao lado dele, olhando-o.
- Eu não sei - ele acaricia os cabelos dela - Eu não sei o que esta acontecendo - ele abaixa o rosto.
- O que esta acontecendo? Me diz, por favor... - ela ainda o olha nos olhos e lágrimas se formam.
- Eu não sei dizer ao certo - ele não consegue encará-la - É um sentimento que veio depois do assalto.
- O que aconteceu? Você pensou em alguma coisa? - ela abaixa a cabeça e as lágrimas escorrem pelo seu rosto.
- Não sei, quando tomei o tiro...fui pro hospital...passei por uma cirurgia. Coisas que me fizeram pensar na vida. Em como eu levo a minha vida.
- O que você quer dizer com isso? - ela o fita atordoada.
- Que eu repensei muitas coisas. Repensei meus estudos, os caminhos que escolhi...
- Nosso namoro? - ela olha-o de maneira dura, limpando o rosto - Não é isso que você ia me dizer?
- É. - ele olha para o longe, perdido no pensamento.
- Olha pra mim, Alberto - ela o puxa pelo braço, nervosa - Você esta dizendo que nosso namoro é algo que não vale a pena continuar na sua vida?
- Eu não sei - ele desvia o olhar - Acho que eu ainda sou muito novo pra estar numa relação assim.
- Você ta dizendo que quer aproveitar a sua vida longe de mim? - Tati o solta enquanto ele acena que sim com a cabeça - Acho que você precisa crescer, de onde veio essa atitude imatura, você acha que vai fazer o que de tão emocionante solteiro?
- Não sei - ele enerva-se - Acho que ainda posso viver muita coisa. Esse namoro esta bastante diferente do que pensei que fosse ser. Já não temos mais emoção juntos! Eu quero sentir mais, não sei explicar, a vida parece ser muito mais que isso.... não sei sabe, eu sinto que posso ter mais, não sei explicar...
Mari fica em silêncio fitando-o, agora já sem lágrimas no rosto.
- Entende? - ele olha ansioso para ela.
- Terminou? - ela o questiona em tom de desprezo.
- É..., acho que sim - ele olha para baixo.
Ela se levanta e saiu andando em direção ao carro.
- Você não vai falar nada? - Beto tenta se levantar com dificuldade.
- O que você quer que eu fale? - ela para e vira para trás - Você fez sua escolha. Você quer curtir a sua vida, se você não tem mais emoções comigo, se a vida é menos ao meu lado. Não tenho nem o que dizer...sei lá, seja feliz? - Ela continua andando.
- Tati... ele ainda a chama desistindo de se levantar - Não é pessoal, entenda, você é uma pessoa maravilhosa.
- Eu não quero escutar isso. Por favor, chega. - ela segue sem olhar para trás.
Beto coloc as mãos sobre a cabeça, chateado.
A vizinha que observa a tudo pedi que o porteiro ajude o rapaz jogado no meio da rua. O porteiro o ajuda a andar até o carro. Uma vez lá, Beto fica parado por uns quinze minutos pensando no grande movimento que ele esta fazendo na sua vida. Teria agido corretamente? Teria sido verdadeiro o suficiente com Tati, ou consigo mesmo?
Cansa-se de pensar e de observar os vizinhos ainda observando seu carro. Volta para casa, o machucado já começa a doer horrores e ele nem havia percebido.

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